Uma das teorias contemporâneas que mais me interessa e que constantemente procuro adaptar à pintura é a psicogeografia. De uma forma simples e sucinta, podemos dizer que a psicogeografia é a exploração de um ambiente, tradicionalmente urbano (mas não é obrigatório que o seja), usando por única ferramenta uma análise profunda, consciente e imersiva desse universo. No fim, registamos todos esses elementos. Caminhar, deambular pelos lugares, é o meio de eleição para esta prática. Se virmos a caminhada como uma forma de arte, um modo de agir, uma fonte de conhecimento, compreendemos que as opções que se fazem ao caminhar podem ou não ser conscientes: tal como na pintura, em que as decisões tomadas podem ser intencionais ou instintivas. A caminhada pode tornar-se um processo de reflexão da nossa própria história e, com companhia, uma partilha de experiências de vida. E se nos perdermos – do percurso inicialmente pensado, daquilo que ao início víamos para nós próprios – despertamos um acto de transformação inigualável.

Caminhar é também uma acção de posse, em que cada passo reclama para si um pedaço de espaço; mais uma vez, tal como a pintura, em que cada pincelada encerra em si uma peça do plano pictórico.

Pintar é explorar o desconhecido, deixar que a tinta seja a bússola e perder todas as referências. O artista é o explorador indolente que se deixa perder na cor e na linha, sem rumo, sem destino, sem intenção. Sem planos, começa a aventura pictórica, uma extrapolação da vida sem qualquer alusão, e cria-se uma nova narrativa, um novo mapa. Este processo, que começa na montagem da tela, estende-se, perdura e subsiste até ao completar da obra e é inevitavelmente influenciado por todo o ambiente que rodeia o artista. Tal como a caminhada.

"Find Reality" / "Encontrar Realidade"
Mixed Media on Canvas / Tecnica Mista Sobre Tela
150 x 150 cm
2021
Photography / Fotografia: Hugo de Almeida