“A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one.” George RR Martin

A linearidade da vida não se aplica àqueles que leem. A multitude de emoções de uma vida é ampliada quando nós embarcamos na viagem de outra pessoa. Somos transpostos do que estamos a viver atualmente, seja felicidade, tristeza, um dia de ansiedade ou angústia, e somos levados numa excursão de emoções e aventuras.

Podemos viver as realidades que mais nos adequam, podemos nos enfurecer com o tratamento e injustiça sofrida por Fanny Price, ou podemos nos apaixonar pelo Mr. Rochester e viver no século XIX inglês durante duas horas por dia; podemos ainda participar na resolução de mistérios do nosso detetive preferido. Se desejarmos, podemos voar com dragões, ou passar um ano num barco com Pi e os seus animais. Eu lembro-me claramente como o mundo ficou mais cinzento no dia que a minha personagem preferida morreu, ou quando lhe partiram o coração, ou até mesmo, quando algum membro da sua família morreu. Ao mesmo tempo, lembro-me de tanto me rir sentada num avião que até tinha vergonha.

Somos seduzidos por diferentes realidades da nossa e arrasados por emoções que são comuns a todos nós, e isto vai mais além da generosidade e voyeurismo da vida de terceiros. Apesar de tão diferentes, torna-me mais humildade ao ver o quanto a infância de Ondjaki em África acerta em cheio com aquilo que eu vivi. O que nós vimos foi tão diferente, mas ao mesmo tempo tão parecido, o que sentimos e como processámos as emoções foi tão semelhante. Esta janela para a vida de outro, que ressoa tanto em nós, é a chave da empatia – perceber que as nossas histórias são tão complicadas e ricas como são diferentes, distintas e parecidas.

"Perfect Reading" / "Leitura Perfeita"
Mixed Media on Canvas / Técnica Mista sobre Tela
150 x 100 cm
2020
Photography / Fotografia: Hugo de Almeida
FOR SALE / À VENDA